Estamos em um antigo boliche abandonado, ao sul - em Streatham Hill, perto de Brixton. Dois andares de situações realmente bizarras. Müsica ambiente: trance e progressive. Talvez eu durma um pouco depois de um longo dia de mudanças. Do norte para o oeste, onde me instalo com meus aproximadamente 50 quilos de pertences.
Aqui, da squatt party, vejo o desencadeamento da loucura programada em escala. Gases semi-alucinógenos. Gotas ácidas respingam pelas paredes enquanto dezenas de jovens sugam balões inflados com gases obscenos - talvez nitrogênio. E foi aí que eu senti o obsceno, merci Artaud. Tudo obviamente natural para a circunstância. Talvez um cop a paisana, conclui Rafaela. O-paisana passa com sua incrível "jaca" negro-amarelo-policial, tapinha nas costas, como se comemorasse conosco a sobriedade, ou a ausência da mesma.
Eu não quero sair do meu corpo. Este é meu corpo e preciso dele mais que nunca e agora: pista de dança. Batidas progressivas entortam minhas pernas. Eu vou dormir, eu vou... É muito cedo para eu me cogumelizar. Velha-guarda da portela, rememoro. É cedo. Muito cedo. No es., no m.ds.
Eu sou uma bola enroscada em minhas pernas dormindo em um boliche abandonado. Sensação térmica abaixo de zero. Mas valeu a experience, não tanto pela musicalidade, e sim porque em definitivo - eu estou para o trance assim como Dalí está para a escola realista ou eu estou para o cogumelo assim como um homem está para uma drag; realmente perto se quiser mas no total oposto genital. Não mental. Talvez. Preciso pensar mais sobre o paralelo.
Saímos do local e a manhã já estavava nevada. Primeira visualização do fenômeno. Gotículas, desta vez de neve, respingam em nossos gélidos compartimentos e agora o frio foi embora ciau, ciau, e tudo parece começar outra vez num ponto de ônibus - metrô- casa - cobertor.