quinta-feira, 30 de abril de 2009

Moça, oh moça, não come fish and chips não

Wembley Stadium, sábado, 18 de abril. O chef da cozinha do estádio coça o cu com a mão depois empana o fish no molho e na farinha. Depois de frito, o peixe é pego com a mesma mão. As chips então... Garotos, eu vi.

Cerca de três fins de semana antes, estava eu lá no mesmo lugar - escalada para assistência de cozinha. Eu até diria que você deve comer um hot-dog inglês (pão e salsicha fedida) por 6 pounds na área VIP do estádio e ter garantida a eficácia dos padrões de limpeza de cozinhas do tipo industriais quando na "carrocinha" só se vende cozido isso. O cuidado com a salsicha é tamanho quando só se tem ela. Ou quando a área é VIP. Sim, ela foram cozidas a temperatura de 72 graus. Verificávamos com o termômetro. Sim, usávamos luvas de látex. E lavávamos as mãos (ou trocávamos as luvas) de hora em hora. A supervisora por quando em vez punha ali sua mão (nua) a verificar as salsichas ainda cruas, mas nada ascéptico.

Neste fim de semana último, lá estava eu outra vez - pulseirinha demarcando minha cozinha Y-153. Desta vez o espaço era maior. Era mais perto do gramado, mais perto dos torcedores fanáticos e um pouco mais distante dos padrões de higiene. Na parte da frente, nada que demarcasse assombro aos supervisores e as noções de limpeza. Na parte de traz, lerê, do refrigerador escorria uma água esquisita que planava no chão, as vezes pisávamos nela - no caminho para pegar ou o peixe, ou a galinha, ou as batatas. Fui apresentada ao chef; eu, e uma indianinha safada que mais tarde iria me mandar fazer serviços que eram ordenados à ela. Indianinha safada, repito. Meu trabalho era entrar no refrigerador, pegar uma caixa, abrir o saco (de chicken ou chips) e colocar no óleo. Seis ou sete latões de óleo a ferver. O chef tinha alguns dentes a menos e uma puta cara de marinheiro popeye. Enquanto isso eu escorregava no óleo que pairava no chão enquanto recebia instruções intermediárias de como tirar e por a batata pela indianinha safada.

A primeira coisa que perguntei foi pelas luvas de látex. O chef testava a temperatura batata comendo-a. Ou enfiando o dedo e rasgando-a no meio. Eu tentei achar um caminho ali - olhando pela cor dourada que se aproximava. O fato é que esse chef, a exemplo dos padrões de higiene acima descritos, enfiou uma de suas mãos na parte de trás de sua calça e inicou um movimento de coçar o cu. Meninos, eu vi. Nada de luvas, nada de papeizinhos umidecidos. A mesma mão foi direto para a bancada dos peixes, e lá se foram os coliformes fecais por todo aquele peixe que logo em seguida era vendido pela quantia de 6,50 pounds, incluindo as chips.

E tenho dito. Da cozinha é que se vê a comida que não se deve comer.
Chelsea bate Arsenal por 2 a 1, mas isso eu não vi.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Ch-ch-ch-ch-changes

Just gonna have to be a different man
Time may change me
But I can’t trace time

(David Bowie)

Tudo mudou de lugar. O endereço, o quarto, a cor do céu e o cheiro dos lençóis. Passei também de 24 para 25, para graça ou não de saturno – corre o prazo de minha validade. Cronos, babe, teve que ser destronado, teve que sacrificar a fantasia. Já um tanto quanto calcificado, sozinho eremitando, segurou uma lanterna na mão e disse: o tempo vence todas as lutas.

G20: os vinte e os mais-de-vinte feridos. Eu deveria ter fotografado, dona história. Eu estava ali perto. Você deve perceber que a mudança foi tão brusca que eu nem tive tempo de ler o que estava escrito. Mas eu vi o sangue jorrando no caminho da calçada, os pingos, cada vez mais poça, fui seguindo, no fim lá a carne da perna um pouco mais pra fora que pra dentro. Suponho ser uma das vitimas (do confronto, das facas cada vez mais afiadas ou de um desses táxis afobados). Ali perto do da estação de Tottenham Court Road, dona história, mais um sem-nome por ti será devidamente esquecido.

Eu estava procurando emprego olhando pra cima ou para os lados, entre os buildings, pensando a próxima porta a bater, a imensidão das portas, o quão velhas são, o cheiro que exalam, os vagos, eu, amontoados de vitrines que me deixavam mais à toa que um salva-vidas sem verão. Daí que o cara me vem de fronte, bem rosado, me aborda com essa história de modelo capilar para teste, cuts & styles. Acho que algo estava morto em mim. Enquanto policiais e manifestantes se entrosavam eu estava tendo um-dia-de-princesa.

Eu fui parar em uma academia de hairdressers bem ali no centro de Londres. Toni&Guy. Cinco ou seis andares de luxo e glamour. Tive o cabelo analisado por pelo menos uns quatro veados estilizados. Perda e recuperação dos fios. Depois cerca de um quarto deles cortado. Meu premiozinho de consolação - sempre tenho um gay pra me erguer a mão. Acho que meu cabelo estava morto e eu mesmo que o devo ter matado. Vez em quando era preciso uma mudança rápida e eficaz, algo que desse efeito imediato. Eu tentei. Esse novo corte deu vida e movimento aos fios, disseram os veados estilizados. Meu glossário de evangelização me diz que isso chama-se providência. Talvez eu devesse partir, da próxima vez, com minha tesoura compactada a meus braços, a la Eduard. Porque sim, dona, o trabalho é braçal.

As coisas definitivamente mudaram. O gay-boss-ex-drag-tatuado-musculoso-cara-de-macho disse afetado: se você não vier está demitida. E eu não fui. Puro estafo. Vocês me foderam por trás garotos, típico de vocês. Devia ter esperado. Era do meu direito, lerê. Eu que com as mãos carreguei a massa pra colar teu tijolo, camará. Tem mão do Brasil que eu sei, aqui representado por bitchs que ascendem carreira pagando-pau de VIP (veado-importante) e desfazendo de mother tongue. Se fodam aí vocês. Se fodam com seus pensamentos viciados, sua moral de rebanho e seu dinheiro que tem comprado e corrompido a moral de muitos de seus funcionários. Aqui, ou em qualquer lugar do mundo, essa é a parte que te cabe desse latifúndio. Ok, cabeças vão rolar e continuam rolando.

Mas o buraco do coelho é mais embaixo... Bem mais. A viagem ao centro de terra, o êxtase de Alice, o gozo da Hilda, cair e levantar - o novelo do Cortazar, o insight, um novo plano, esse bonde chamado desejo, essa coisa da bondade dos estranhos)... Essas pequenas certezas diárias, essas confirmações de que tudo estava acontecendo como deveria, sempre, babe, sempre erguer a cabeça e os punhos - e ir ter com os tijolos, ter um plano, um pneu ou um cavalo, um coringa, algo que te leve, (outra vez) uma canção do Bowie (sempre)...



Cause hope, boys, is a cheap thing...